quinta-feira, 14 de abril de 2011

a equilibrista.

Todo dia se preparava para seu grande show.
A menina, que usava o mesmo vestido toda noite. Ela fazia sempre a mesma coisa.

Andava por sua corda, colocando um pé na frente do outro, bem devagar. Oscilava de um lado para o outro, para frente e para trás.
Nunca caiu. Sempre conseguiu chegar ao outro lado da sua corda.

Ao ouvir os aplausos ela precisava sorrir. Então ela sorria. Sempre.
Sempre que estava na frente de seu público.

Em seu camarim gostava de ficar no chão. Era seu lugar particular, seguro e firme.
Ali, ninguém podia vê-la.

Um dia, cansou de ser a perfeita equilibrista. Cansou de sempre oscilar, mas nunca cair. Cansou de ficar sempre no quase.
Se preparou para o seu último show. Fez o que ela fez em todos os outros dias de sua vida.
Deu três passos rápidos em sua corda, causando uma movimentação nervosa em sua plateia.
Ela olhou para baixo, observou a multidão de olhos intactos que esperavam pelo seu próximo movimento.
Pensou: "será que eles vão me aplaudir quando eu cair?", e no mesmo momento soltou seu último suspiro, e caiu.
Não houve reação. Ninguém disse nada. Ninguém a aplaudiu.


Não havia nada lá em baixo, pois mal sabia a equilibrista, que na verdade aquela corda era o seu chão.

2 comentários: