mas todo sonho acaba...

Hoje eu falarei novamente de saudade. Mas hoje eu sinto uma saudade diferente... é uma saudade da qual eu não falo muito. Talvez seja pelo fato de ser cansativo demais falar dela. Talvez seja pelo fato de eu nunca ter superado essa saudade. E sinceramente não sei como superar.

É a saudade do meu primeiro sonho.
Incentivado e cultivado pelo meu pai desde quando eu era apenas um feto, até meus 3 anos, quando finalmente assumi o sonho como meu, verdadeiramente.
Sonho que eu assistia na TV e tentava imitar, mesmo com pernas magras e fracas, eu já arriscava minhas primeiras piruetas.

Saudade do meu sonho de ser bailarina.

Tenho saudades das minhas meias calças apertadas, que sempre andavam desfiadas, por conta da minha falta de paciência para vesti-las.
Saudades das minhas sapatilhas. Saudade até das bolhas e calos nos pés.
Saudades das aulas, daquela hora interminável preenchida com músicas tocadas no piano que faziam meu corpo se comportar como uma pena. Tão leve, tão gracioso.
Saudades da dificuldade de memorizar as coreografias, e de sorrir sozinha quando finalmente conseguia realizar minhas piruetas duplas apenas na ponta dos pés.
Saudade dos vestidos. Do tule que me pinicava, das medidas erradas que me apertavam tanto. Do coque que deveria ser tão certo, tão apertado que quase puchava minhas sombrancelhas mais pra cima.
Saudade daqueles espelhos. Foram naqueles espelhos que eu vi o restinho do meu pai sendo refletido em mim. O gosto pela dança, o gosto pelo clássico, pelo belo.

Saudade de voar. Pois foram naqueles palcos que eu aprendi a voar.

Mas todo sonho acaba. Então ele acabou.