quinta-feira, 4 de março de 2010

Essa é a história da menina que não tinha coração.

Essa é a história da menina que não tinha coração.

Andava por ai com um buraco no peito, vagando sem um rumo certo.

Um dia a ela viu crianças brincando no parque. Elas pulavam, gritavam e sorriam.

A menina sem coração tentou imitá-las. Esticou os finos lábios até mostrar os dentes. Só conseguiu assustar. Era falso, não era natural.

Ela continuou sua jornada pelas ruas solitárias de sua vida sem emoção.

Um dia ela viu uma garota. Seu corpo estava encolhido e ela emitia sons estranhos aos seus ouvidos.

A menina sem coração se aproximou e perguntou o que ela estava fazendo.

“chorando” disse a garota com uma voz distorcida.

Seu rosto estava vermelho, e dos seus olhos escorriam pequenas gotas de água.

“o que é chorar ?” perguntou a menina sem coração. “ como eu faço isso ?”

A garota levantou e disse : “sentindo uma dor forte e profunda”

A menina sem coração continuou a andar, procurando algo que a fizesse chorar. Ela passou seus finos dedos em seus olhos grandes. Estavam secos, sempre secos.

Como ela poderia sentir uma dor forte e profunda? Com um machucado talvez?

Cortou os pulsos.

Fortes e profundos cortes nos pequenos braços da menina. Vazavam sangue.

Nada aconteceu. A menina apertou os olhos, esfregou. Tentou arrancar qualquer coisa.

Nada. Nenhuma gota. Nenhuma lágrima.

Os cortes fecharam, e a menina continuava em sua solidão.

Como poder rir sem emoção? Como poder chorar sem saber o que é dor, alegria, saudade?

A menina vagava, sem rumo. Perdida.

Até que um dia a menina esbarrou em um menino. Ele olhou para ela e sorriu.

Sem dificuldade, a menina sem coração retribuiu.

Dessa vez ela não assustou ninguém com um sorriso forçado. Dessa vez ela sorriu de verdade.

A menina não estava mais sozinha. Em sua mão, repousava a mão dele. Aquele que a fez sorrir.

O menino a ensinou a não cair, a ensinou a viver.

Ele tentou preencher o buraco no peito da menina. Tirou parte de seu coração e entregou a menina.

O buraco não estava mais vazio, estava meio cheio.

Foi ai que a menina com meio coração aprendeu a chorar, e não gostou da nova habilidade.

Ela olhou para sua mão e ela estava vazia.

O menino não estava mais ali, não havia mais motivo pra sorrir.

Será que ela poderia continuar? Com meio coração? Será que seria mais fácil viver com emoções, ou não saber sentir era melhor?

A menina não sabia. A menina estava assustada. A menina não tinha certeza de nada.

Antes a menina não tinha coração.

Agora, a menina tem um coração partido.

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